Quanto vale uma previsão de mercado?

Conforme abordamos no nosso relatório de novembro (veja aqui), a virada do ano é pródiga em análises para o ano que se inicia, com as já tradicionais análises de conjuntura e projeções econômicas se destacando nos relatórios das instituições financeiras e na mídia especializada.

Uma das principais preocupações que temos ao conversar com os investidores sobre conjuntura econômica é deixar claro que não temos a habilidade de prever o futuro, ninguém tem. A taxa de câmbio tem motivo para ser conhecida como a máquina de humilhar economistas.

Apesar de ser impossível prever o futuro, os agentes do mercado financeiro constantemente se arriscam nessa tarefa. Vamos ver algumas das previsões de mercado para economia em 2021: Segundo o Boletim Focus de janeiro/2021, o mercado acreditava que terminaríamos o ano com um PIB de 3,4%, inflação de 3,3%, Selic de 3,0% e dólar em R$5,00.

Na prática o futuro se manifestou de maneira um pouco diferente, isso é o que os economistas chamam de “deterioração das expectativas”. Alguns argumentam que o cenário “mudou”, e entendemos que sim, o cenário mudou e é esse o ponto.

O cenário sempre muda, o mercado não é capaz de prever o futuro

Apesar dessa incessante vontade de desenhar cenários e fazer previsões até onde os olhos não alcançam, o mesmo agente que vende as previsões sobre o futuro vende produtos financeiros baseado no retorno dos últimos 12 meses.

É uma situação comum, uma instituição financeira faz uma apresentação preliminar sobre cenário, conjuntura, mudanças de paradigma e qual é a próxima Apple. Ao final da apresentação vem a sugestão de como aproveitar a tendência, um produto bem embalado e fácil de ser vendido.

Uma das justificavas para a escolha de tal produto? É o ativo ou a classe que mais deu retorno nos últimos 12 meses. Se a discussão é sobre o futuro talvez este devesse ser um dos argumentos menos importantes.

Do ponto de vista de alocação de capital, toda essa dinâmica nem seria problemática, se fosse abordada com a devida cautela. O problema começa quando o investidor passa a ter sua carteira de investimentos tomada pelo tema da vez.

As carteiras monotemáticas

Uma das coisas que mais nos surpreende é que sempre há um tema dá vez, e sempre parece que os investidores estão carregados desse tema. Em 2018, todas as carteiras eram quase compostas em sua grande maioria por investimentos atrelados à taxa SELIC, algo que performou muito bem em 2016 e 2017. A partir do meio de 2019 começamos a ver muitas carteiras com alta exposição ao Ibovespa, estratégia que performou bem em 2018 e 2019. E desde o início de 2021 temos visto carteiras com sobre exposição ao exterior, particularmente o S&P500, o grande ativo da década e, principalmente, dos brasileiros no último ano.

Os melhores investimentos para 2022

Vamos para as nossas previsões para 2022, se a bolsa de valores é o pior investimento pra 2022, qual é o melhor? Provavelmente o que mais subiu nos últimos 12 meses.

Acreditamos na importância de se discutir alocação de capital ao invés de produtos e classes de ativos financeiros. A melhor decisão de investimentos, para o período arbitrário que for, é estar exposto a diferentes ativos com gatilhos de valorização independentes. Um pouco de renda fixa, um pouco de renda variável, um pouco de Brasil, um pouco de exterior, sua carteira de investimentos não é prova de múltipla escolha, é permitido escolher mais de um ativo.

Tudo isso associado a uma visão prática de conjuntura, onde o objetivo não é adivinhar pra onde o mundo vai, mas como as mudanças podem afetar seu portfólio. Então, ainda que não exista muito valor na previsão em si, e talvez haja até destruição de valor quando a orientação segue totalmente o cenário traçado, existe ganho em entender como as mudanças de cenário poderiam afetar os diferentes ativos no seu portfólio.

Se uma previsão não vale muita coisa, quanto vale um acerto?

E se você pudesse prever o futuro? E se em 2019 você pudesse prever uma pandemia e uma queda do PIB de 4% no ano seguinte? Qual seria o melhor investimento para 2020?

Além de ser difícil acertar previsões, é mais difícil ainda aplicar utilidade prática a elas. Seria difícil ser traçado um cenário onde o PIB brasileiro cai 3,9% e a bolsa sobe 2,92% (esse é o ano de 2020) e no ano seguinte o PIB sobe 4,2% e a bolsa cai 11,93% (2021).

A necessidade de controle do ser humano, entretanto, sempre fala mais alto e todo início de ano veremos as tradicionais projeções do cenário econômico. Sendo assim, seguem abaixo as atuais previsões para o ano de 2022: