Publicado em Novembro/2022
Quando conversamos com nossos investidores sobre as estratégias de investimentos que utilizamos, costumamos destacar papel das opções como ações táticas a serem utilizadas em complemento ao desenho estratégico de um portfólio. Entretanto, esse instrumento financeiro muitas vezes não é bem compreendido. Tentaremos, então trazer um pouco mais de clareza ao tema.
O que são opções?
O mercado financeiro é criativo em criar opções instrumentos financeiros para o investidor. As opções compõem os chamados Derivativos, que são ativos ´cujo comportamento ‘deriva’ de um outro, chamado de ativo subjacente. Os derivativos são utilizados com os mais diversos objetivos no mercado financeiro, desde proteção (hedge) à alavancagem (potencialização de ganhos, ou perdas). O conceito pode assustar à primeira vista, mas descreveremos algumas operações com opções.
Em resumo, as opções são um contrato de compra e venda que permitem que seu detentor trave o preço de um negócio que só se concretizará no futuro.
Opções imobiliárias
O equivalente mais próximo do dia a dia da maioria dos investidores é o contrato de compra e venda de um imóvel.
Normalmente, ao negociar um imóvel, antes da escritura trocar efetivamente de mãos, há um período de solicitação e conferência de documentos. Para garantir que nenhuma das partes vá desistir da negociação durante esse processo é realizado um contrato de compra e venda.
Nesse contrato o comprador adianta uma parte do valor do imóvel ao vendedor, amarrando a operação e garantindo que terá o direito de comprar o imóvel pelo preço pré-acordado. Pronto, está estabelecida uma opção de compra.
Esse contrato tem o objetivo de garantir que mesmo que a situação de mercado mude o comprador e o vendedor honrarão seus compromissos.
Opções são seguros.
Outro exemplo de opção no dia a dia das pessoas são os seguros. Pense em um seguro de carro, você paga anualmente um prêmio para a seguradora e em troca, no caso de um sinistro, tem o direito de vender o seu carro por um preço pré definido. Está estabelecida, então, uma opção de venda.
Um direito de compra é uma opção de compra (imóvel), um direito de venda é uma opção de venda (seguro do carro).
Opções no mercado financeiro (questões operacionais)
As opções no mercado financeiro têm o mesmo objetivo final que as opções da compra de imóvel ou do seguro do carro, poder realizar negociações tendo em vista eventos futuros, protegendo as partes envolvidas para que a negociação seja efetivada.
Uma opção de compra te permite comprar um ativo a um preço predefinido em uma data predefinida. Por exemplo, uma opção de compra de Vale com Strike em 80 e vencimento em 16/12, te dá o direito de comprar ações de VALE3 por 80 reais por ação naquela data.
Do ponto de vista operacional são definidos os seguintes critérios:
- Data de vencimento: quando a opção deixa de existir e o vendedor não tem mais obrigações com o comprador;
- Strike: preço pactuado para na negociação do ativo;
- Call ou PUT: Call se for um direito de compra ou PUT se for um direito de venda.
Seguradora ou segurado
Existem 2 principais operações que gostamos de executar nas carteiras de investimento. A primeira e mais comum é assumir o papel de seguradora (um negócio muito lucrativo).
Nesse caso, existem investidores que gostariam de vender suas ações caso elas caíssem abaixo de determinado preço, e existem ações que nós gostaríamos de comprar caso caíssem abaixo deste preço.
Então fechamos negócio, atuamos como as seguradoras e vendemos opções de venda em troca de um prêmio. Caso o ativo não venha abaixo do preço determinado dentro do prazo de vencimento da opção, ficamos com o prêmio e rentabilizamos o capital.
Caso o ativo venha abaixo daquele preço (Strike), somos obrigados a comprar um ativo que já tínhamos interesse prévio. Por ser uma situação de ganha-ganha onde o tempo joga ao nosso favor, é comum realizarmos essa operação.
O tempo passa e as opções expiram
Toda opção, obrigatoriamente, tem uma data de vencimento. Dessa forma o tempo joga a favor das seguradoras e contra os segurados. Imagine o seguro do seu carro, se nada acontecer com ele dentro do período de vigência, a seguradora fica com o prêmio que você pagou e não tem mais nenhum compromisso com você, a não ser que você renove o seu seguro, o que implicará em um novo prêmio.
Sendo assim, quem compra uma opção está correndo contra o tempo, pois as condições para que ela seja lucrativa precisam ocorrer dentro do prazo de vigência do contrato.
Muitas vezes, entretanto, é importante comprar um seguro, mesmo que você não tenha que usá-lo. O próprio caso do carro é um deles.
O mais comum é perder dinheiro com seguro
Nem sempre você quer que uma operação com opção dê lucro. Voltando ao seguro, via de regra, você não deseja bater o seu carro. A mesma coisa ocorre no mercado financeiro, por vezes compramos opções (seguros) esperando que caduquem, neste caso ficamos com o prejuízo do prêmio pago
O seguro do seu carro não precisa dar lucro, as suas operações de proteção no mercado de capitais também não. Em momentos que o mercado está mais instável ou com valuations menos atrativos é possível comprarmos opções de venda para o caso de grandes quedas repentinas no mercado.
Protegendo a sua carteira de investimentos
Na maior parte do tempo os desastres não acontecem e, algumas vezes quando acontecem, já foram previamente precificados. Assim, essa operação costuma custar caro e dar prejuízo, pois paga-se um prêmio pela proteção, dessa forma, o tempo joga contra o investidor (e a favor da seguradora).
Com base nesse racional, não costumamos comprar com frequência opções. Mas como exemplo, em função do cenário de bear market, no mês de agosto montamos uma estrutura para proteger as carteiras internacionais, em setembro o índice de ações americano caiu 9,3% e a estrutura foi capaz de proteger 2% de queda nas carteiras.
Em outubro, renovamos essa estrutura de proteção com vencimento em janeiro de 2023.
Apesar da proteção parecer pequena, buscar proteções totais pode ficar muito caro e podemos incorrer em prejuízos maiores no caso da não materialização do cenário negativo. Imagina pagar 20 mil por ano pelo seguro de carro popular.