Na nomenclatura contábil, ativos são definidos como bens e direitos. Portanto, para simplificarmos, ter um ativo financeiro é igual a ter o direito de receber os fluxos de caixa de acordo com o que foi contratado na emissão de um título representativo daqueles bens ou direitos.
A maioria dos títulos do mercado financeiro se refere a 2 tipos de contratos, os de fluxo de caixa definidos, também conhecidos como renda fixa (ex.: debêntures, títulos da dívida pública, CDBs), e os de fluxos de caixa variáveis, conhecidos como renda variável (ex.: ações, fundos imobiliários).
O que é a renda fixa?
É um título de dívida, um instrumento financeiro utilizado por empresas e governos para custear os seus projetos. É um empréstimo, ou seja, o emissor paga uma taxa de juros em troca do recebimento imediato de um montante.
Esses títulos são chamados de renda fixa pois conhecemos o valor ou o fator de correção (ex.: Selic, IPCA) dos fluxos de caixa que vamos receber no futuro. Por exemplo, se comprarmos um título prefixado por R$1.000,00 pagando 10% ao ano, com juros anuais e vencimento em 10 anos, está predefinido que iremos receber 10 parcelas de R$100,00 e a amortização de R$1.000,00 ao final do período, temos a renda definida – R$ 100,00/ano.
O que muitas vezes não é bem compreendido é o fato de ser fixo no contrato os fluxos de caixa e não a taxa de juros. O efeito prático disso é que caso alguém pague mais do que R$1.000,00 no título mencionado, receberá menos do que 10% ao ano e, caso contrário (pague menos), receberá mais.
O que é a renda variável?
A renda variável é um direito de participação nos resultados de um empreendimento. Por exemplo, na emissão primária de uma ação, o investidor aporta seu capital no caixa da empresa e está usa o montante pare executar seu projeto.
A renda é chamada de variável porque o fluxo de caixa a ser recebido é desconhecido e depende do sucesso da empreitada, inclusive podendo variar a cada período durante a vida de um projeto. Ou seja, significa compartilhar os riscos e os ganhos com o empreendedor.
Para que servem estes títulos? Qual o papel do mercado financeiro?
A finalidade do mercado financeiro é transferir recursos de poupadores para empreendedores (ou devedores) para financiar, principalmente, projetos empresariais.
Quem empresta o faz porque tem dinheiro sobrando e não tem uma melhor aplicação para este capital. Financiando uma companhia, o investidor é remunerado por uma taxa acordada e protege um montante que, parado, estava sujeito aos efeitos da inflação.
Na outra ponta, está quem toma esse dinheiro com propósito de utilização. O objetivo da empresa é gerar valor ao acionista, assim, deve necessariamente buscar projetos com taxas de retorno maiores que o seu custo de financiamento.
Espera-se que, por exemplo, uma empresa alcance um retorno sobre capital investido maior que o rendimento de uma debênture emitida por ela para financiar seus projetos. Um banco, deve gerar ganhos o suficiente para pagar todos os CDB’s que o financiam e mais um tanto para remunerar os seus acionistas.
Os riscos para os financiadores (e investidores)
Risco de preço
Investir no mercado financeiro sujeita o investidor ao risco de preço. Tanto na renda fixa, quanto na renda variável há esse risco. Se o investidor quiser resgatar antes do vencimento (renda fixa) ou da perpetuidade (renda variável), deverá fazê-lo a preços de mercado.
O risco de preço se manifesta na renda fixa da seguinte forma: Um investidor adquire um título de renda fixa com vencimento em 3 anos, surge uma oportunidade melhor e ele precisa vendê-lo. Terá que aceitar o preço de mercado, que poderá ser maior ou menor do que o que foi pago na sua emissão.
Mesmo que o investidor não pretenda vender antes do vencimento, o simples fato do valor do título oscilar diariamente faz o investidor demandar um prêmio para carregá-lo, o risco de preço não tem apenas a ver com a liquidez.
Como lidar com o risco de preços?
Todo preço oscila diariamente e todo risco demanda um prêmio. Acontece que há preços os quais simplesmente não acompanhamos todos os dias e, por isso, não o conhecemos com precisão. É o caso daquele terreno ou apartamento que o proprietário acredita valer “X”, mas que tem anos que não verifica os preços de mercado.
Além disso, em linhas gerais, espera-se que se o investimento for bem-sucedido dará um retorno maior do que manter o dinheiro em caixa, esse excesso de retorno esperado é parte do prêmio de risco de um ativo.
Risco de fundamentos
Outro risco presente no mercado financeiro é o risco na mudança dos fundamentos. Como os ativos representam direitos a fluxos de caixa no futuro, qualquer evento que possa colocar estes fluxos em risco é um de risco de fundamento.
Na renda fixa, o risco de fundamento se resume basicamente ao calote, caso no qual a empresa ou governo que emitiu a dívida não cumpre com o pactuado com o investidor, que ficará sem receber os fluxos de caixa devidos. Quanto maior a percepção de risco de calote mais prêmio de risco será demandado.
Na renda variável, além do risco de falência, há também o risco de perder sua competitividade e, apesar de gerar fluxos de caixa suficientes para honrar com o compromisso da dívida, não ser capaz de remunerar adequadamente os seus investidores.
Sendo assim, os fatores de risco fundamentais nas ações são aqueles ligados a eventos que possam diminuir as receitas, margens e/ou endividamento das empresas.
Como lidar com o risco de fundamentos?
Filosoficamente, podemos dizer que faz sentido investir em empresas e emprestar para empresas. Se não o fizesse, os empreendedores fechariam as portas e comprariam títulos públicos.
Se empreendedores existem, é possível obter retornos maiores que o seu custo de financiamento. É como se todos os dias tomassem a decisão de tocar os seus projetos em detrimento de deixar seu dinheiro rendendo no Tesouro Direto.
Assim como há um prêmio a ser capturado ao assumirmos o risco de preços, também há ao participarmos do risco de fundamentos.
Como mencionado anteriormente, é importante estar ciente de que o risco não é exclusividade de um tipo de investimento. A renda fixa não está alheia aos contratempos da atividade econômica e empresarial.
Ainda que via de regra a renda variável seja mais sensível as mudanças nos fundamentos, existem formas de mitigar seus efeitos em um portfólio de ações equilibrado.
O exemplo da diversificação para a renda variável
A forma mais comum de mitigar os riscos apresentados é a diversificação, ao comprar diferentes ativos expostos a diferentes fatores de risco os fluxos de caixa variáveis das ações tendem a se linearizar. Em momentos em que alguns ativos vão mal, outros vão bem e vice-versa. Ou seja, o risco dos fluxos de caixa diminui e no longo prazo uma empresa muito vencedora compensa o resultado de várias perdedoras.
O resultado dessa dinâmica para o mercado americano pode ser visto no gráfico a seguir, que demonstra os dividendos recebidos pelos investidores que detinham uma carteira exatamente igual ao índice de ações americano:
Fonte: philosophicaleconomics
Sendo assim, é possível proteger seu portfólio de grande parte dos riscos de fundamentos, e ao dividir o risco com os empreendedores capturar o excesso de retorno proveniente dos prêmios de risco.
De qualquer maneira, é importante lembrar que a rentabilidade não é e não pode ser o único fator de escolha na tomada de decisão. É inteligente, também, garantir algum retorno (renda fixa) com parte do nosso capital, disponibilizando recursos para quem quiser assumir o maior risco (empreendedores). Portanto, uma boa carteira de investimentos deve considerar o equilíbrio entre a renda fixa e a variável, de acordo com o perfil do investidor.