O Dragão está voltando?

Publicado em Agosto de 2020

Na segunda semana de setembro o noticiário foi tomado pela discussão sobre a alta dos preços do arroz e preocupações renovadas com a inflação. Dentro de uma definição técnica, inflação significa o aumento generalizado e contínuo dos preços. Ou seja, por maior que possa ser o aumento do preço de um determinado item em um determinado período, só há inflação se a maior parte dos itens da cesta de consumo estiverem subindo de preço de maneira consistente. Sendo assim, até então, o fenômeno que estamos observando no arroz e alguns outros itens de supermercado trata-se de uma mudança de preços relativos, pois, ao mesmo tempo que há um aumento pronunciado nesses preços, em outros setores há uma diminuição. Neste caso temos por exemplo, aumento da inflação de alimentos e bebidas e redução nos serviços (gráfico 1).

Gráfico 01 – Histórico inflação por setor

Porém, mesmo que um aumento dos preços relativos não possa ser caracterizado como inflação, pode ser um indício. Para sabermos se isso ocorrerá precisamos entender se o choque de preços atual tem características temporárias ou permanentes.

Um choque temporário se caracteriza por uma alta de preços que pode ser corrigida em futuro próximo com ajustes de oferta ou demanda. Para se expurgar os efeitos de um choque temporário no IPCA são utilizadas as métricas de núcleo. O núcleo do IPCA consiste em retirar os itens mais voláteis da cesta de consumo. Olhando para esse indicador, podemos observar no gráfico abaixo que apesar de o IPCA ter subido em sua última divulgação o núcleo recuou e continua comportado.

Gráfico 02 – Taxa de inflação

Inflação no Brasil Hoje

Neste momento a inflação brasileira encontra-se controlada, principalmente pela redução do consumo de determinados setores por ocasião da pandemia. Entretanto, há um risco associado ao controle das contas públicas. Na eventualidade do furo no teto de gastos poderemos ver o governo obrigado a emitir moeda de maneira desordenada para sustentar o rombo fiscal. O aumento de dinheiro em circulação pode levar à perda do poder compra em uma situação de retomada do consumo pós pandemia.

A importância da inflação para o investidor

Em geral, sempre que conversamos sobre investimentos a longo prazo, os investidores têm um objetivo em comum, manter ou aumentar a capacidade de consumo no futuro (que se manifesta sob diferentes roupagens). Como investidores, vemos a necessidade proteger nosso poder compra que tende a ser corroído pela inflação.

A inflação do investidor seria aquela que representa a variação de preços de sua própria cesta de consumo, aqui o interesse é medir como o seu custo de vida varia com o tempo e como se proteger. Essa abordagem é importante, pois, muitas vezes, os índices oficiais não refletem a situação que realmente importa para o investidor, a dele.  É provável que títulos indexados à inflação oficial não sejam capazes de manter a capacidade de consumo dentro de seu padrão de vida. Abordagens mais abrangentes podem fazer mais sentido, como por exemplo, investir em empresas que se relacionam à sua própria cesta de consumo. Dessa maneira, à medida que a empresa repassa seus preços ao consumidor, a rentabilidade dos seus investimentos também tende a aumentar, protegendo sua capacidade de consumo futura.

Investimentos para se proteger da inflação

Títulos indexados: A maneira mais clássica, um papel de renda fixa que paga ao investidor um valor fixo mais a correção de algum índice inflacionário, normalmente o IPCA. Como abordado anteriormente, pode não ser a proteção mais apropriada a todos os investidores.

Ativos com valor intrínseco

Escassos: Ouro, obras de arte, criptomoedas, terrenos dentre outros. Dada a quantidade finita desses recursos em uma situação onde a quantidade de moeda aumenta em relação a quantidade de recursos, é esperado que se valorizem.

Geradores de caixa: Empresas, fazendas, imóveis dentre outros. Sendo estes, os ativos responsáveis por agregar valor à cadeia produtiva e gerar bens de consumo que também se corrigem em função da sua escassez em relação à quantidade de moeda circulante.