Publicado em março/2025
As pessoas sempre querem investir melhor, construir patrimônio e aumentar seus rendimentos. Mas poucas realmente param para pensar: para onde vai o dinheiro que investimos? A resposta está na economia real.
Duas maneiras de se investir
Quando definimos investimento, estamos falando de ativos que geram caixa e pagam seus investidores (texto aqui), assim, estamos excluindo do assunto, criptomoedas, obras de arte, ouro, petróleo e outras commodities, por não se caracterizarem como tal.
Qualquer investimento tem apenas dois destinos: ou você está emprestando dinheiro (renda fixa) ou está entrando como sócio em um negócio (renda variável).
Se você investe em um CDB, o dinheiro não ‘se multiplica sozinho’. Por exemplo, o banco pega esse dinheiro e o empresta para empresas e consumidores. Ele cobra juros sobre esses empréstimos, paga uma parte a você e fica com o restante como lucro. O mesmo acontece ao comprar ações: seu dinheiro é usado para expandir um negócio, gerar empregos e desenvolver novos produtos. Se a empresa prospera, o valor da ação cresce e você ganha dinheiro.
Empréstimos – Renda Fixa
A renda fixa é basicamente um empréstimo que você faz aos bancos, às empresas ou ao governo, e que te remuneram juros por isso. CDBs, debêntures e os títulos públicos são exemplos clássicos de títulos de dívida no mercado de capitais.
O dinheiro investido nesses ativos não fica parado. No caso do CDB, os bancos usam o recurso para conceder crédito, cobrando juros mais altos do que pagam aos investidores. No fim das contas, parte do lucro retorna para o credor do banco (você), mas uma parte fica com a instituição financeira, que precisa cobrir riscos e garantir seu próprio lucro.
O mesmo acontece com os títulos públicos. Ao comprá-los, você está emprestando dinheiro ao governo, que utiliza esses recursos para pagar despesas e investir em áreas como infraestrutura e educação. Os juros pagos ao investidor têm origem na arrecadação de impostos e na emissão de novos títulos públicos.
Para honrar esses compromissos, o governo mobiliza recursos vindos do mercado (novas emissões de títulos) e da sociedade (tributação). No final das contas, os juros elevados pagos no país saem do bolso de todos nós, seja por meio de impostos ou pelo impacto do endividamento público na economia.
Os investimentos em renda fixa ajudam a movimentar a economia. O seu retorno está diretamente ligado ao fluxo da economia real. Quando um crédito é originado com o dinheiro dos investidores, é esperado que os tomadores desse empréstimo consigam pagar os juros com os frutos da sua atividade produtiva, seja por meio do crescimento de um negócio, seja pelo consumo de bens e serviços financiados. O ciclo se fecha quando esse pagamento retorna aos credores.
Participação em Negócios – Renda Variável
Na renda variável, a lógica é outra: em vez de emprestar dinheiro, você se torna sócio de um negócio. Pode ser comprando ações, fundos imobiliários ou até investindo diretamente em um empreendimento.
Ao comprar ações, você está colocando dinheiro em uma empresa, que pode utilizá-lo para expandir operações, lançar produtos ou investir em novas tecnologias. Se ela cresce e se valoriza, você ganha. Se o negócio não vai bem, você perde.
Os fundos imobiliários funcionam da mesma forma. O retorno ao investidor depende da demanda por imóveis, que por sua vez está ligada à capacidade das pessoas e empresas de pagarem aluguéis ou adquirirem propriedades.
Isso significa que, no fim das contas, o sucesso dos investimentos é um reflexo direto da atividade econômica e da disposição das pessoas em consumir e movimentar capital. Seu dinheiro é usado para construir ou manter imóveis, que geram renda por meio de aluguéis ou valorização ao longo do tempo.
Esse tipo de investimento permite que empresas cresçam sem depender de bancos. Um exemplo clássico é o Uber. Durante anos, a empresa não gerou lucro, mas conseguiu se expandir porque investidores compraram suas ações, apostando que ela se tornaria rentável no futuro. O dinheiro captado ajudou a melhorar a tecnologia, aumentar a frota de motoristas e alcançar mais mercados. Esse modelo de financiamento foi essencial para que o Uber chegasse aonde está hoje. No Brasil, o impacto da empresa é significativo: cerca de 1,4 milhão de motoristas utilizam a plataforma como fonte de renda, evidenciando como o capital dos investidores pode transformar setores inteiros da economia.
Mas nem sempre é fácil enxergar para onde vai o dinheiro investido. A indústria financeira adora criar produtos sofisticados que, no fim das contas, mascaram algo que deveria ser simples.
Investir deveria ser simples
O mercado financeiro adora complicar as coisas. Mas, ao final, todo investimento se encaixa em uma destas duas categorias: ou você está emprestando dinheiro, ou está se tornando sócio de um negócio.
E por que isso importa? Porque quanto mais complexo o investimento, maior a chance de que ele esteja sendo usado para cobrar taxas altíssimas dos investidores. Muitos produtos sofisticados são desenhados para enriquecer os intermediários, e não o investidor. Por exemplo, algumas corretoras ganham comissões altíssimas só para vender esses produtos. No final das contas, o dinheiro que poderia estar no seu bolso acaba indo para eles. A indústria recebe os grandes comissionamentos e você as cascas de cebola.
Investimentos Complexos Ainda São Apenas Veículos
Muitas vezes, fundos de investimento, derivativos e operações estruturadas são vendidos como se fossem categorias de ativos completamente diferentes. Mas, na prática, eles são apenas veículos para investir nos mesmos dois tipos de ativos: empréstimos ou participação em negócios.
Por exemplo, um fundo de investimento pode aplicar em títulos públicos, o que nada mais é do que emprestar dinheiro ao governo. Da mesma forma, pode comprar ações, o que significa que você, indiretamente, está se tornando sócio de uma empresa. Derivativos também seguem essa lógica: seja para proteção (hedge) ou especulação, em última análise, eles estão lastreados em ativos que representam crédito ou participação acionária (lembre-se que nesse texto estamos excluindo as commodities).
O problema é que esses veículos costumam vir com taxas e estruturas que complicam o investimento sem oferecer um benefício real ao investidor comum. Muitas vezes, são apenas formas de justificar a cobrança de taxas de administração e performance, sem que o investidor perceba que poderia acessar os mesmos ativos de maneira mais direta e barata.
Ou seja, não importa o quão sofisticado pareça o nome do investimento—ele ainda se encaixa em uma dessas duas categorias.
Conclusão
Investir não precisa ser complicado. A escolha é simples: emprestar dinheiro ou se tornar sócio de um negócio. Entender essa lógica ajuda a tomar decisões mais conscientes e evita cair em armadilhas financeiras.
Seja financiando empresas e governos por meio da renda fixa ou apostando no crescimento de negócios via renda variável, todo investimento tem impacto real na economia. Na última linha, os rendimentos dos investidores só existem porque há consumo e circulação de dinheiro na sociedade. Quem entende esse princípio consegue fazer escolhas mais inteligentes, acumular patrimônio de forma consciente e evitar armadilhas comuns no mercado financeiro.
Ressalvas e Contribuições
Para simplificar a leitura, optamos por não entrar em todas as nuances e detalhes técnicos dos produtos financeiros. Se você tem sugestões, pontos de vista diferentes ou quer contribuir para enriquecer essa discussão, fique à vontade para entrar em contato.