Ainda antes de começar a escrever este artigo, já respondo objetivamente à questão proposta no título: sim, cabem! E mais: é urgente que os empreendimentos rurais tratem da sua governança familiar. Pretendo explicar o porquê…
Atualmente, ninguém, exceto algumas pessoas do Governo Federal, duvida da importância do agronegócio para nosso País, seja enquanto gerador de riquezas, seja projetando nossa ciência para o mundo todo, ou seja enquanto ator essencial para impedir a fome nos habitantes deste planeta.
De outro lado, é também um fato que quaisquer empresas (e, inclusive as do agro) devem se profissionalizar e, se não o fizerem da forma correta, certamente entrarão para a lista fúnebre daqueles empreendimentos que não resistem à troca de comando entre as gerações (nas empresas familiares, estudos demonstram que somente 12% conseguem transferir a gestão e o controle para os netos do fundador – 3ª geração – e somente 3% para seus bisnetos – 4ª geração – vide PwC Global Survey, 2016, p. 5.).
E por que estas empresas morrem ao longo desse processo?
Basicamente, as pesquisas demonstram que alguns fatores são críticos para isso e, dentre eles, um dos principais é a inexistência de um plano sucessório estruturado, ou seja, quando houver uma troca de gerações ou quando o fundador deixar de comandar o empreendimento, como será o comando compartilhado entre os sucessores?
Sem este planejamento, surge o espaço para o desalinhamento, para a disputa de poder e as pessoas rapidamente se esquecem do tanto que sofreram juntas para que o negócio crescesse e a vaidade assume o comando dos interesses.
Infelizmente, tal como ouvi uma vez em uma aula para sucessores de grandes empreendimentos rurais, as pessoas deixam de honrar a herança ou legado que receberam e deixam de trabalhar para fazê-lo prosperar, a fim de torná-lo ainda melhor para as próximas gerações. Os valores da família não são mais debatidos e os almoços de fins de semana param de acontecer.
Este cenário é um pesadelo para a quase totalidade dos inúmeros fundadores com os quais já conversamos Brasil afora e normalmente é o principal motivo pelo o qual uma família investe em um plano de sucessão e implementa práticas de governança em seu empreendimento rural.
Como foi percebido por outra pesquisa da PWC, “86% dos entrevistados brasileiros concordam que valores e cultura são mais fortes na empresa familiar do que em outros tipos de negócio (no mundo, são 78%). Muitas empresas acreditam que fazem negócios porque estão mais próximas de seus clientes e possuem um relacionamento mais pessoal com eles – creem mesmo que são escolhidas precisamente porque não são multinacionais. (Empresa familiar: Um negócio que se adapta ao século 21, PWC, 2017)”.
Assim, preservar esses valores das famílias, que se refletem nos negócios, é um fator crítico de sucesso para a perenidade dos empreendimentos rurais, evitando que, como já vimos acontecer nos EUA e mesmo com algumas famílias no Brasil, a divisão das propriedades entre os sucessores tire a força e sustentabilidade destes negócios.
Para tanto, a discussão da governança desta família, traçando regras para o próprio convívio familiar (constituição ou protocolo de família) ou para o convívio dos sócios familiares (acordo de sócios), é essencial para a harmonização futura dos interesses e estabilidade das relações e, consequentemente, dos empreendimentos.
Traçadas as regras, surge a necessidade de instituição de um conselho, seja ele de administração (que delibera) ou principalmente um consultivo (que aconselha sem deliberar), que, se bem estruturado, de forma prática e pouco burocrática, irá apoiar muito a família em seu desafio de sucessão.
Desta forma, como disse lá no começo do artigo, empreendimentos rurais, governança e conselho devem sim serem tratados como temas ligados entre si. Há vários anos a nossa Equipe da ABC Family futre care percebeu isso e, exatamente por isso, temos como nosso propósito apoiar as famílias nessa transição, harmonizando as relações entre seus membros, facilitando a perenidade dos negócios.
Talvez esteja no momento certo de você, produtor rural, refletir sobre isso também!