Publicado em maio/2025
Se em seu primeiro mandato, o Trump foi um dos responsáveis pela difusão do termo Fake News, no segundo mandato, já começou com tudo para emplacar o termo Fake Markets.
Riqueza de papel
Como podem 2 trilhões de dólares de riqueza sumir do dia para a noite? Em menos de uma semana após o anúncio das tarifas norte-americanas, os mercados já caíram mais de 10%, totalizando uma destruição de riqueza maior que 2 trilhões de dólares.
As listas da Forbes, os patrimônios bilionários, são verdadeiros ou apenas “paper wealth”? A riqueza aparente nos Home brokers, nos mercados, e em Wall Street, existe na Main Street?
Além da volatilidade
Não é uma questão apenas de volatilidade, é sobre os fundamentos — ou a falta deles. Valuations sustentados por sentimento, tendência e excesso de liquidez de tempos em tempos sucumbem à realidade do fluxo de caixa.
Não é que o sentimento macro não tenha importância, também não queremos dizer que as tarifas não têm potencial de afetar os negócios, porém, quando os preços não estão alicerçados no fluxo de caixa, qualquer notícia pode fazer um bom estrago.
Muitos investidores correm atrás de narrativas, seguem tendência, compram a próxima modinha. A NVIDIA vem desenhando um exemplo de livro texto de bolha financeira, lembrando a Cisco nos anos 2000. Na época, a Cisco surfou a onda da internet, tendo suas ações inflacionadas por expectativas irreais de crescimento, até que o estouro da bolha pontocom trouxe uma correção abrupta e dolorosa.

Negócios que não geram caixa são promessas, os que geram caixa são ativos.
Riqueza sem fluxo de caixa não existe. Muito do que nós chamamos de patrimônio é mensurado em ‘ganhos no papel’. Esse patrimônio existe enquanto extrapolação do preço de uma parte para o todo, mas em grande parte não pode ser realizado.
Patrimônio irrealizável: o mercado não aguenta
‘Ganhos no papel’ compõem, portanto, parte do que reconhecemos como ‘patrimônio’— não realizados, frágeis e sujeitos a reavaliações abruptas. Se os indivíduos mais ricos do mundo, como Elon Musk, Jeff Bezos ou Bill Gates, tentassem converter uma parte relevante de suas participações acionárias em dinheiro vivo, provavelmente derrubariam o preço de suas próprias ações no processo. O mercado simplesmente não possui liquidez suficiente para absorver tamanha oferta sem uma reprecificação severa dos ativos.
Durante períodos de juros próximos de zero e liquidez abundante, os mercados conseguem tolerar — e até premiar — empresas que operam no vermelho, desde que prometam crescimento futuro. Mas à medida que o custo do capital sobe e a liquidez seca, a gravidade volta a atuar. Promessas futuras são avaliadas com rigor, e o valor atribuído ao ‘possível amanhã’ despenca.
O que você tem e o que você quer
O preço das ações não é capaz de sustentar as suas vontades. Já diziam os gregos: riqueza é uma relação entre ter e querer, dizia Epicteto— e a ponte entre os dois é o fluxo de caixa (tradução própria).
O preço dos ativos, não apenas das ações, pode mudar para melhor ou pior em questão de segundos, varia por sentimento, liquidez ou mesmo sem qualquer razão — sua existência é imaterial.
O caixa gerado pelos ativos é a verdadeira liquidez, é a real capacidade de transformar ter em querer. Quem tem imóvel como investimento não pode viver com base em sua precificação de mercado, mas pode viver com base nos rendimentos líquidos que recebe do imóvel.
Não é só no mercado financeiro que o fluxo de caixa é rei
Você tem um imóvel de aluguel, o imóvel te remunera em 2 mil por mês e vale 600 mil reais, a medida da qual você usufrui dos benefícios deste imóvel são os 2 mil reais (naturalmente, quando você não está arcando com custos de corretagem, reformas, impostos e seguros). A precificação do imóvel é apenas uma realidade teórica que ainda tem que passar pelo crivo do comprador, pelas taxas de corretagem, pelo imposto sobre ganho de capital, e pelos custos cartoriais.
Isso vale para um grande latifundiário, não adianta a terra valer muito, a medida do usufruto de seu dono é tal qual a geração e venda de seus produtos agrícolas.
Só podemos ter boas respostas às nossas preocupações se fizermos a pergunta certa, e esta não é ‘Quanto vale/valorizou o meu patrimônio?’ A pergunta certa é: Quanto de caixa os meus ativos podem me gerar, o quanto eu posso usufruir?
O seu fluxo de caixa
Liberdade financeira é o poder de escolha que o seu fluxo de caixa te permite. Diferente de precificações teóricas, chutes quanto à valorização dos seus imóveis e expectativas de valuation, o fluxo de caixa é o soro da verdade.