As ações realmente sobem no longo prazo?

A ideia de carregar ativos que mudam de preço diariamente pode gerar ansiedade e levar a decisões ruins na hora dos investimentos. O risco de ter retornos negativos faz com que várias pessoas evitem o investimento em renda variável.

Como a volatilidade do mercado de renda variável é motivo de preocupação para os investidores, é comum vermos no mercado analistas, gestores e assessores dizerem aos seus clientes para focar no longo prazo.

O senso comum diz que ações sempre sobem no longo prazo, mas será que na prática uma estratégia de poupança e investimento constante, executada durante a fase de acumulação da vida do investidor costumar render bons frutos?

Dollar Cost Averaging (preço médio)

Popularmente conhecida como Dollar Cost Averaging (DCA), é uma estratégia que tem como objetivo fazer preço médio no mercado ao longo do tempo. Ao se fazer o preço médio, o investidor garante que, mesmo que compre ativos antes do estouro de uma crise, também fará novas aquisições, a preços mais descontados, nas baixas do mercado.

Na prática, o DCA é uma maneira de se aproveitar da volatilidade do mercado, assim, o investidor transforma um dos seus maiores motivos de preocupação em um aliado na gestão de recursos. Nesse sentido, o DCA se opõe a ideia de fazer markettiming, ou seja, tentar prever os topos e fundos do mercado.

A evidência histórica para o mercado americano

NICK MAGGIULLI, COO de uma gestora norte americana, testou o resultado dessa abordagem aplicada ao S&P500. Seus resultados mostram que investir um mesmo valor mensalmente por 10 anos foi uma estratégia vencedora em 98% dos casos analisados.  Além disso, a mediana dos resultados apresentados foi de 76% de valorização, para as janelas móveis de 10 anos.

https://ofdollarsanddata.com/how-often-does-dollar-cost-averaging-fail/

Maggiuli também testou a hipótese para as ações japonesas, um mercado que nunca retornou ao seu topo histórico de 39 mil pontos em dezembro de 1989. A estratégia foi vencedora em 75% do tempo, apresentado uma mediana de valorização de 53%, para os períodos testados.

DCA aplicado ao Ibovespa

E para os investidores Brasileiros? Qual a taxa de sucesso dessa estratégia aplicada ao Ibovespa? Realizamos os testes e a seguir apresentamos as conclusões.

Como o teste funciona: Utilizando os retornos históricos do Ibovespa desde janeiro de 2001, simulamos para diferentes janelas temporais, todas com prazo de 10 anos, o resultado de investimentos mensais de R$1.000,00 durante esses 10 anos.

Por exemplo, no gráfico 1, o eixo horizontal apresenta a data de início dos investimentos e o eixo vertical apresenta o resultado após 10 anos. Ou seja, o investidor que fez seu primeiro aporte em janeiro de 2001 tinha aproximadamente R$ 350.000,00 em dezembro de 2010. Alternativamente, o investidor que fez seu primeiro aporte em janeiro de 2011 tinha aproximadamente R$ 225.000,00 em dezembro de 2020. Nos dois casos o valor total investido foi de R$ 120.000,00 ou R$ 1.000,00 por 120 meses.

Fonte: I.P.A.

A estratégia foi vencedora em 90% do tempo. Pode-se observar no gráfico acima que os insucessos estão concentrados em único período de início dos investimentos (ago/2005 a nov/2006), ou seja, investir em ações brasileiras só apresentou resultados negativos para aqueles investidores que encerraram seu período de acumulação no pior momento da década passada – 2015/2016, no início do segundo mandato da Presidente Dilma Rousseff.

Ao olharmos para os resultados mais extremos da estratégia, o maior ganho e a maior perda, o investidor que tivesse começado a poupar 1000 reais por mês em janeiro de 2001 e se aposentasse em dezembro de 2010 teria alcançado um patrimônio de R$ 346.875,00 ao final do período. Um retorno de 189% em 10 anos ou 11,2% ao ano, o melhor retorno apresentado pela estratégia em todo o período analisado. Por outro lado, o investidor que executou a mesma estratégia entre fevereiro de 2006 e janeiro de 2016 teria terminado o período com R$ 92.117,63, 28 mil a menos do que economizou, um retorno de -23% em 10 anos ou -2,6% ao ano.

Fonte: I.P.A.

Para o Índice Ibovespa, o resultado de aportes constantes ao longo de 10 anos rendeu em média 49% para os investidores, nos períodos estudados. Além disso, é interessante observar a assimetria na dispersão de resultados, 45% dos resultados estão acima de 50% em 10 anos e a abrangência de resultados positivos é bem maior do que a de resultados negativos. A assimetria fica evidente quando ressaltamos o fato de que o menor resultado apresentado foi de apenas -23% contra o maior resultado de 189%.

Fonte: I.P.A.

Considerações sobre o Ibovespa

É importante fazermos algumas ressalvas sobre essa análise aplicada ao índice de ações brasileiro. O horizonte analisado é curto, utilizamos dados apenas desde 2001. Além disso, podemos dividir as últimas duas décadas em 2 momentos, a primeira década caracterizada pelo boom das commodities que beneficiou de sobremaneira as ações brasileiras e a segunda década, que também pode ser chamada de segunda década perdida’ da história do Brasil. Por fim, ainda vale mencionar que o Ibovespa possuía problemas de metodologia de rebalanceamento até 2014, sendo assim, até mesmo empresas em evidente declínio (ex.: OGX), que poderiam ser evitadas ao longo do processo de investimento, tinham peso relevante no resultado final.

Relevante também dizer que, durante a maior parte do período analisado, o Brasil conviveu com taxas de juros muito elevadas em relação ao resto do mundo, distorção que só começou a se normalizar à partir de 2016.